sexta-feira, setembro 16

Adequando os animais ao manejo e ao ambiente que se tem


Antônio Roberto Mendes Pereira

Nas minhas visitas técnicas, sempre encontro casos em que vários produtores depois de montar seu plantel de animais, não conseguem segurar sua atividade econômica produtiva durante muito tempo, tendo que se desfazer de muitos animais por inúmeros motivos. Motivos estes que na maioria das vezes estão relacionados ao não conhecimento suficiente do ambiente onde está instalada a atividade. 

Atividades de criações de caprinos e bovinos desativadas. 

Motivos como o clima, a falta ou a quantidade insuficiente de água e alimentos nativos e cultivados. Levando o criador a ter que adquirir rações compradas, onerando a atividade e em alguns momentos diminuindo a margem de lucros ou até, sua falta. A escolha de uma atividade produtiva no campo da agropecuária exige muito conhecimentos sobre o ambiente onde se quer implementar a escolha. 

Quando a escolha é de animais, é importante antes de tudo conhecer as necessidades desta espécie, em relação à habitação, alimentação, sanidade e reprodução. Não pode esquecer-se de verificar se o clima daquela região é o ideal para a espécie escolhida. Lembre-se, você quer produzir e não montar o animal. Na montagem posso trazer tudo de fora, já no produzir não, exige como dito anteriormente mais informação sobre o ambiente. Como exemplo da montagem de animais é o que acontece com as granjas, onde quase todos os insumos são trazidos de fora. Vejamos: 

Quando se fala nos pintos, eles são comprados dos incubatórios, a ração, energia, vacina, medicamentos, desinfetantes, todos são insumos produtivos que também são adquiridos através da compra. Até a maravalha que se utiliza na cama dos galpões também são comprados das serrarias. Como se vê a função do produtor não é produzir e sim montar o animal, logo deveria ser chamado de montador e não de produtor. 


Para mudar esta situação é preciso verificar o que aquele ambiente pode oferecer para que possamos criar a espécie escolhida da melhor forma possível. E depois ver que outras necessidades, pode-se criar no ambiente que tenho, levando sempre em consideração as características do local, relacionadas à fertilidade do solo, a água disponível, entre outros. 

ENTENDENDO A ÁREA NATIVA E SUA CAPACIDADE DE SUPORTE ANIMAL 

Toda área nativa tem sua capacidade própria de suportar certa quantidade de animais. Entender esta lógica é interessante para aprendermos como montar nossos sistemas de criação animal. Observando as imagens abaixo podemos nos fazer várias perguntas. 

Imagens da Savana Africana 

Como uma área nativa com estas características consegue oferecer condições alimentares para segurar tantas espécies selvagens? Animais como elefantes, girafas, rinocerontes, hipopótamos entre outros. Uma paisagem que visualmente não tem características naturais para poder alimentar espécies de que na sua maioria são de grandes portes, quando comparados com os animais criados comercialmente, como, por exemplo, os bovinos. É bom ressaltar que todos os animais selvagens frisados são herbívoros, isto é, alimentam-se de vegetais. 





É muito interessante buscar entender sistemas naturais como este da savana africana. Eles podem nos ensinar muitos detalhes que podem ser transferidos para os nossos sistemas cultivados. Da mesma forma que temos a savana como exemplo para ser entendido, também temos muito mais próximo de nós a caatinga que também tem características muito semelhantes a savana e que pode também trazer muitos ensinamentos, conhecimentos e informações para nos ajudar a montar nossos sistemas cultivados. 

Potencial forrageiro das espécies da vegetação natural na caatinga 

Na imagem acima, vemos animais se criando e sendo criados na caatinga, uma prova da capacidade de suporte da vegetação natural. Imagine agora esta capacidade sendo potencializada. A capacidade de suporte poderia aumentar consideravelmente, além de exigir pouca intervenção humana. 

Para que se possa criar um ajuste entre a capacidade de suporte do meio natural e o tamanho do plantel é necessário responder as seguintes perguntas: 

1. A vegetação nativa atende em que na alimentação dos animais que pretendo criar? 
2. Em cada estação do ano ou ciclos da natureza o que aquele ambiente me oferece generosamente de alimentos? 
3. Como aproveitar ao máximo esta generosidade, potencializando estes recursos oferecidos? 

A nossa função neste sistema de intervenção deveria ser para COMPLEMENTAR esta generosidade, e não me desprover de todo estes recursos naturais oferecido gratuitamente, retirando todos, trocando tudo por elementos que até então não existia naquele ambiente. Esta é a postura e o comportamento que a maioria dos criadores de animais fazem, retiram tudo em prol de outros, que às vezes nem são adequados ou adaptados aquele ambiente. 

E diante deste comportamento o novo elemento exige um manejo especial e permanente, e sofre com qualquer alteração fenomenológica que venha ocorrer. O produtor torna-se refém e empregado da atividade e das espécies escolhidas para criá-lo. Vai aceitando a vantagem da modernidade retirando o já adaptado, resistente, pelo novo pago, e muitas vezes não adequado ao local. 

O nativo pode até não gerar altos rendimentos de biomassa quando comparado com a espécie novata, mas em compensação nasce sem ninguém ter que plantar, reproduz sozinho, resiste até ao pastejo intenso, além de aguentar muitas mudanças climáticas como estiagem, muita chuva. Poucos são os parasitas ou pragas que a atacam. 

Já a cultivada tem também suas vantagens, mas cria gastos de energia maior para manter ou manejar a mesma, além de ser muito susceptível a muitos intempéries e parasitas. Pode até produzir mais biomassa, mas por quanto tempo? E se o clima mudar? O que acontece com ela? Será que vou ter que comprar alimentos para suprir o que ela não conseguiu produzir? 


As duas imagens acima mostram pastos nativos que não exige quase nenhum manejo para permanecer produtivo, além de serem muito resistentes as mudanças climáticas. 



As duas imagens acima mostram capins cultivados que não estão resistindo à estação seca. Se a caatinga na sua totalidade seca e o pasto nativo também, imagine o que acontece com o cultivado? 

Este texto pretende trazer idéias que pode ajudar a entender que medidas poderiam ser tomadas para que se possa adequar o manejo do ambiente à espécie escolhida, diminuindo gastos com energia e contribuindo para uma agricultura de baixo consumo de carbono. 

Da mesma forma que os seres humanos causam impactos no ambiente uma criação de animais sem as devidas cautelas podem causar os mesmos danos. Quando se analisa os impactos do consumo humano no ambiente é preciso considerar três fatores principais: 

· A população; 
· O estilo de vida; e 
· A tecnologia. 

O que vai determinar a pressão ambiental da humanidade no planeta é a relação entre: 

· Quantos consomem (população); 
· Quanto cada um consome (em quantidade); 
· E como cada um consome (a qualidade, o tipo de material, a durabilidade, a reciclabilidade e degrabilidade). 

Se compararmos as nossas atividades de criações de animais e aplicarmos a mesma lógica, veremos que o enunciado acima pode se adequar as nossas propriedades, e o não entendimento destes parâmetros, podem com certeza gerar problemas no desenvolvimento da atividade. 

Se as propriedades e as atividades forem comparadas com o ambiente de atuação, pode-se perceber onde precisamos melhorar e mudar nossos comportamentos diante das atividades que estamos nos propondo a fazer. 

Uma quantidade exagerada de animais atua da mesma forma que uma quantidade exagerada de população humana, vai causar muitos impactos no ambiente da propriedade, da mesma forma se não analisarmos o quanto cada animal consome e a tecnologia que se vai utilizar para manter estes animais nesta propriedade. 

Todos estes fatores vão influenciar e transformar a propriedade, quando não se tem as informações corretas sobre este ambiente e as espécies que pretendemos criar. 





O QUE PRECISAMOS FAZER PARA AMBIENTALIZAR MELHOR AS CRIAÇÕES AO MEIO? 

1. Calcule as quantidades exigidas de alimento pela espécie que se quer criar e veja as que sua propriedade possui para atender. Um erro nestas projeções pode levar sua atividade ao fracasso, ou de outra forma, pode trazer prejuízos ou descapitalização, pois necessitará comprar rações. Não introduza mais que o sistema pode suportar. Evite a forte pressão do pastejo nos meses de seca, encontre a quantidade ideal de animais por hectare (unidade animal); 

2. Descubra a quantidade mensal que o sistema pode suportar levando em conta as estações climáticas do ano (Primavera, verão, outono e inverno). Nesta lógica o numero de animais do plantel vai variar se adequando a estação e diretamente a oferta de alimentos e água que se tem; 

3. No início do sistema sempre inclua animais de pequeno porte e vá aumentando o tamanho. Muitas vezes o sistema da propriedade não está bastante avançado para receber animais de desenvolvimento corporal grande, e o sistema não consegue atender as necessidades do mesmo, exigindo insumos alimentícios de fora; 


4. Escolha animais de manejo mais simples e com o tempo vá aumentando a criações de animais mais exigentes. Aprenda com o mais fácil; 

5. Crie espaços para que os animais se criem espontaneamente. Quanto mais natural for o ambiente montado, mais sustentabilidade terá a atividade. Tudo se torna mais fácil para manejar. Em um sistema onde o habitar é o mais natural possível devemos ter a disposição: alimento em todas as estações do ano, água de boa qualidade, microclima adequado a espécie e a raça; 



Tocando gado na caatinga 

6. Além de o espaço criado ser natural, monte também espaços de rotação para que a vegetação natural possa se restabelecer, podendo até a se tornar mais desenvolvida, criando ambiente onde se possam introduzir novas espécies tanto criadas como naturais; 

7. Só permita a criação de reprodutores se o sistema permite o manejo integral dele e de suas crias. Pois, em muitos casos se mantém um reprodutor manejando unicamente para acasalar poucas fêmeas, além de que a propriedade não esta estruturada para o manejo integral de todas as suas crias; 

8. Introduza outros animais que utilizem as sobras de outros, como exemplo, tudo que o porco não come as galinhas comem. Esta é mais uma forma de evitar desperdícios não permitindo também que a criação principal possa gerar poluição com seus desperdícios. Pense também nas sobras da casa; 

9. Conecte os animais a todo o sistema, que eles sejam mais um elo no sistema maior da propriedade. Não permita desconexões, pois ela gera mais trabalho para a sua manutenção; 

10. No inicio da implantação e introdução de animais no sistema, pense que no primeiro momento é sempre bom introduzir animais vegetarianos e poligástricos e no futuro vá incluindo os monogástricos; 

Animais monogástricos são aqueles que apresentam um estômago simples (mono = um gástrico=digestão), com uma capacidade pequena de armazenamento.
Exemplos: porcos, coelhos, lebres, cavalos, galinhas, patos, peixes...

Animais poligástricos (ruminantes) são aqueles que apresentam um estômago com grande capacidade de armazenamento, sendo este dividido em quatro câmaras: rúmen, retículo, omaso e abomaso.
Exemplos: cervos, búfalos, vacas, alces, cabras, bois, novilhas... 

11. Introduza novas espécies de vegetação que seja ao máximo adequado ao seu ambiente. Liste o que se tem como leguminosas, gramíneas, tubérculos e os restos de cultivos, e a partir deste reconhecimento introduzam o que falta para que se possa oferecer uma alimentação balanceada, evitando comprar ou trazer de fora estes alimentos. Aumente a produção de estoque de biomassa no sistema; 

12. Domestique a espécie escolhida para serem criadas as características da sua propriedade e das ofertas de alimento que se tem. A domesticação das espécies é uma boa prática desde que aprendamos a domesticar as espécies adequando-as a minha área, a minha propriedade, ao ambiente que tenho. Criar uma variedade onde o animal ou a cultura possa ter todas as suas necessidades atendidas, sem que ter trazer nada de fora. Criar formas de melhorar a partir do que se tem é o segredo. As combinações, os consórcios, as parcerias; 

13. Use o quadrado de PEARSON para poder montar os cardápios o mais equilibrado possível a necessidade animal e ao estágio de seu crescimento. O quadrado de misturas ou quadrado de Pearson serve para determinar as percentagens em que cada um dos alimentos deve ser misturado na composição da ração, de forma a se obter uma mistura com as características que atenda a necessidade animal; 

14. Aprenda a manejar a caatinga. Existem vários sistemas que podem ser utilizados para que a caatinga possa aumentar e criar uma estabilidade de forma sustentável para alimentar o rebanho, podendo garantir uma oferta de alimentos no período de maior carência (verão). As técnicas recomendadas têm como base o manejo de plantas lenhosas e da pastagem mais baixa, que a gente chama de estrato herbáceo, com o objetivo de aumentar a produção e a disponibilidade de forragem; Pesquise: Embrapa Caprinos e Ovinos


15. Intensifique a produção de forrageiras na tentativa de aumentar a capacidade de criação de animal na sua propriedade, porém lembre-se em primeiro lugar maneje e aumente a capacidade produtiva das pastagens naturais. Após este manejo introduza vegetais que possam ser utilizadas como capineiras de corte, além de introduzir técnicas como ensilagens e fenação. Todas estas técnicas permitem o aumento da carga animal na propriedade; 


16. Plante forrageiras adequadas e resistentes ao ambiente. Isto facilitará a capacidade de suporte da sua propriedade com plantas de fácil produção e resistentes ao clima. 


Como vemos temos uma infinidade de alternativas para adequar o manejo dos animais ao ambiente que se tem, bastando para isto simplesmente pensar mais um pouco e imitar mais o que a natureza já vem fazendo a milhões de anos. E como diz Chico Anísio: 

“Eu não me envergonho de mudar de opinião, porque não me envergonho de pensar” 


11 de setembro de 2011

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