sexta-feira, julho 15

Necessidades variadas, exigem uma diversidade constante na propriedade rural


Antônio Roberto Mendes Pereira

Na agricultura de subsistência, as necessidades humanas determinam o que se vai produzir. E como nossas necessidades são sempre variadas, a produção precisa atender a esta demanda.
O ser humano é exigente na sua dieta e requer uma nutrição difícil de obter a partir de  poucos tipos de alimentos.

Os carboidratos são de mais fácil produção (macaxeira, milho, arroz, etc.). Sistemas simples conseguem facilmente atender as necessidades de uma família. Mas alimentos que dêem nutrientes mais complexos como as proteínas, podendo atender os níveis idéias de vitaminas, gorduras e sais minerais nem sempre são facilmente produzidos e atendidos em sistemas simples. Necessita-se de mais conhecimentos sobre as suas exigências para sua produção. Uma floresta em seu estado natural só consegue atender de 7 a 8% dos alimentos consumidos por nós humanos. Mas, hoje se utilizando as técnicas do sistema permacultural já se consegue introduzir vegetais cultivados nestes ambientes aumentando estes números percentuais para 60 a 70%. E Uma das grandes estratégias utilizada para se alcançar estes resultados é o correto manejo da luz solar.

Nas pequenas e médias propriedades rurais o suprimento destes alimentos mais complexos é atendido na sua maioria por uma rede de transporte, armazenamento e comercialização que transcende as porteiras de muitas propriedades, e em especial dos pequenos imóveis rurais. Às vezes estes alimentos viajam centenas de quilômetros para atender esta demanda crescente e exigente dos consumidores urbanos e rurais.


E de quanto mais distante vem este alimento, mais energia na forma de petróleo (combustível) é gasto, tornando estes alimentos caríssimos para sua aquisição. As técnicas de conservação destes alimentos também demandam grandes quantidades de insumos químicos que na sua maioria são oriundos e derivados do petróleo. Também contribuindo para os preços elevados destes produtos.

E  vale a pena salientar que só estamos dando ênfase às necessidades alimentícias, se formos explorar outras necessidades veremos que a lógica é mais ou menos essa, o ser humano não se contenta com o que tem, e quer sempre mais, e esta rede de necessidades vai sendo alimentadas por uma mídia desenfreada que prega e vende o consumismo. Imaginem que os aborígenes durante toda sua vida manipulavam mais ou menos 40 elementos, quase todos orgânicos. Já na sociedade moderna atual, o ser humano manipula durante sua vida mais de 10 mil objetos. E quase todos consumindo energia para ser produzidos e para ser utilizados.

O que fazer para que estas necessidades sejam atendidas localmente, na propriedade? Esta é a intenção deste texto, trazer idéias, estratégias e princípios que se aplicados podem minimizar esta dependência externa de compra de alimentos e outros insumos.

Não podemos esquecer que quando as necessidades de um sistema não são atendidas ou supridas dentro dele, nós pagamos o preço em consumo de energia e em poluição. Não podemos mais arcar com os custos verdadeiros de um modelo de agricultura que degrada o meio ambiente de forma arbitrária, sem nenhum sentimento ou responsabilidade pelo que se faz, pelo que gera, pelo que transforma, pelo que excreta. Este modelo está matando nosso mundo, e com certeza irá nos matar também, pois estamos e somos todos ligados, estamos numa mesma rede de relações e de vida.

A produtividade, na agricultura moderna, é usualmente medida por unidade de área plantada. Na Permacultura para qualquer espécie plantada de forma monocultural, a produção na sua maioria é quase sempre menor, quando comparada com o sistema moderno. Porém, a soma das produções onde os policultivos de sucessão permanentes são realizados, os resultados serão sempre maiores, simplesmente porque um sistema, de uma só espécie, nunca poderá usar toda a energia e os nutrientes que estão disponíveis naquele sistema. Por exemplo, um sistema de plantas de multinivéis (de alturas diferentes), usa ou tenta utilizar toda luz disponível para a fotossíntese naquele espaço, no monocultural toda essa energia não é utilizada e se perde.

Os sistemas radiculares destas plantas também por ser variados em tamanho, espessura e forma, exploram profundidade de solos diferentes, aproveitando ao máximo os minerais que estão disponíveis. Logo, numa área mista a probabilidade de uso completo e integral é maior. Um peixe que se alimenta de plâncton de modo algum vai competir com outro que tem como base alimentar as algas numa lagoa.

Logo, a primeira medida a ser seguida é praticar uma Permacultura complexa e diversa, para poder maximizar o uso de todos os recursos e energias disponíveis, e assim aumentar a produtividade local. Se tiver luz, como aproveitar melhor esta luz? Se tiver minerais como produzir ao máximo com o que se tem? Se tiver água como reaproveitar ao máximo a mesma água?

A interação entre espécies é necessária em sistemas Permaculturais. Quando bem projetada com certeza aumenta a produção e a produtividade local. Possa ser que animais e plantas não consigam coexistir totalmente sem competição, mas a simples presença de um, pode melhorar ou preparar o ambiente para o outro. Como exemplo, podemos frisar plantas altas e exigentes em sol, pode preparar o ambiente para plantas que não exigem grande quantidade de luz solar, como é o caso do café e muitas outras.

Para minimizar estas demandas sugiro a criação de um sistema evolutivo, que possa aproveitar e reaproveitar todas as energias e recursos, que possam estar presentes no ambiente da propriedade, ou vir de fora, além de criar situações onde os alimentos mais complexos possam fazer parte deste sistema de produção.

SEMPRE

SISTEMA EVOLUTIVO DE MONTAGEM PERMACULTURAL DE REUSO DE ENERGIAS.

Para que este sistema possa funcionar se faz necessário utilizar várias estratégias. Talvez o uso de uma só estratégia não se consiga alcançar os resultados na sua inteireza. Logo, é o conjunto de ações que facilitam e promovem o sucesso deste sistema.
·      
Não queimando a biomassa – Não pode perder este potencial nas propriedades. Toda esta biomassa para ser produzida necessitou retirar do solo e do ar os minerais para produzir crescimento vegetal. A decomposição desta biomassa devolve para o sistema gratuitamente parte destes minerais. Em muitos casos transfere nutrientes de camadas mais profundas, colocando a disposição nas camadas mais superficial, podendo ser alcançado pela maioria dos sistemas radiculares das plantas. O uso da cinza também devolve mineral para o solo, mas a capacidade da matéria orgânica de tornar o solo fofo, grumoso é perdida, só na decomposição desta matéria orgânica através dos microorganismos é que se alcança esta bio condição de solo (bioestrutura).

·    Aumentando a quantidade de matéria orgânica no solo por metro² - Até parece que é a mesma coisa da estratégia anterior, mas são diferentes. O primeiro nos remete a preocupação de não perder a matéria orgânica, e o segundo nos remete a preocupação de produzir e implantar estratégias de aumentar a produção de matéria orgânica, de forma que a retroalimentação do solo seja constante e com um cardápio adequado e variado.

Uma das grandes preocupações de quem pratica agroecologia é a realimentação dos solos, que estão sendo cultivados, já que os naturais, a própria natureza se encarrega de forma espontânea. Aumentar esta quantidade de matéria orgânica onde se pratica agricultura pode até parecer uma contradição, mas não podemos esquecer que ao se colher os frutos de um determinado cultivo para a venda, parte dos minerais e da água que fora utilizado para a sua produção é exportado para outros espaços. É claro que esta operacionalização irá provocar um empobrecimento do solo onde aconteceu e se praticou a agricultura.

Como diminuir estas saídas equilibrando esta prática? Sabemos também que todo ser vivo permite saídas e entradas para se manter vivo e ativo. Como fazer para que as nossas propriedades possam ter estratégias produtivas que levem em conta estes mecanismos? No texto “Transferência de fertilidade” tento trazer várias alternativas que podem resolver este problema.

·    Arrumando a distribuição das plantas em relação à posição do sol da estação – A posição das plantas em relação ao sol tem uma influência direta na fotossíntese e consequentemente no metabolismo da planta trazendo como resultado o equilíbrio de todo ciclo da planta. Ela com certeza irá cumprir todo seu ciclo produtivo e reprodutivo. O Permacultor observador tem necessidade de conhecer e ter uma relação das necessidades de cada cultivo que pretende incluir no seu agroecossistema. Tem plantas que necessitam de mais luz, outras de menos, mas com certeza todas necessitam de luz para fazer fotossíntese. Toda folha de uma planta foi projetada para fazer fotossíntese, toda ela precisa ter contato com o sol em algum momento do dia. Logo, entender e aprender o jogo de luz é uma necessidade primária. Dependendo da estação o sol pode ter uma influência maior ou menor no desenvolvimento das plantas. A altura e a inclinação do sol pode ser um diferencial no que se quer produzir.

Estude e anote estas inclinações. O aproveitamento ao máximo da energia solar deve ser um dos objetivos almejados. Esta energia  nos é dada de graça e precisa produzir biomassa ao máximo. É uma forma de armazenar toda esta energia que nos foi presenteada pelo sol através da fotossíntese. Esta biomassa é a base para fazer que toda esta matéria orgânica possa passar por todo sistema, ora sendo matéria orgânica viva, ora sendo matéria orgânica morta, ora sendo flor, ora sendo semente, ora sendo fruto. E assim passar e estar presente contribuindo de forma direta e indireta no ecossistema ou no agroecossistema.

·   Contribuindo para o aumento da fotossíntese, diminuindo as podas, desmatamento, plantando plantas de grandes portes com potencial de maior captura de carbono e de fotossíntese – O aumento da fotossíntese tem uma relação direta com energia, com captura de carbono, com mais oxigênio disponível, com mais produção, pois tenho toda uma usina de energia (folha) que consegue transformar luz em alimento, e vale apena dizer que o homem só deveria comer alimento produzido pelo sol. E podemos ainda afirmar que planta não consome minerais e sim açúcar, que é um dos resultados da fotossíntese. Precisamos fazer com que todas as folhas de uma planta consigam desempenhar seu maior papel, que é o de fazer fotossíntese.


Lembre-se que a Energia dos seres vivos é o sol transformado em alimento a serviço da vida.

·      Diminuindo a entropia – Todos os seres vivos produzem entropia, perda de energia, energia que se perde e não volta ao mesmo ser da mesma forma. Como exemplo, quando transpiramos estamos fazendo entropia, e este calor é perdido. Como diminuir esta entropia?  Já que ela acontece, como reaproveitar esta energia exalada pelos seres para outras tarefas no sistema? Para melhorar a compreensão pergunto: como aproveitar o ar quente da minha respiração, o que posso fazer com ele? Será que posso utilizar esta energia exalada para aquecer algum espaço? Imagine um espaço onde tenham muitas pessoas juntas, onde esta exalação é bem maior, o que posso fazer? Posso encarar como uma pequena usina de ar quente? Pense nisso e busque outros exemplos no dia a dia de sua propriedade.

·      Diminuindo as saídas do sistema – Produzir e consumir localmente ou equilibrando as saídas e entradas é outra alternativa que precisa ser repensada. Quanto menos compro e mais produzo para o meu consumo diminuo o gasto com energia. Evito o gasto com uma infinidade de ações que precisam ser realizadas para colher, selecionar, separar, embalar, transportar, expor e vender, quase todas estas ações pode ser minimizado a partir do momento que penso em primeiro produzir para o meu consumo. E caso seja necessário escoar o excesso ou a produção comercial posso buscar formas de fazer coletivamente, dividindo os custos com transportes com outros companheiros produtores.

·       Armazenando ao máxima as fontes de biomassa no período de maior produção (das águas) – Este tema já foi tratado mais ainda necessita de mais um complemento. O melhor momento para se produzir e armazenar biomassa é no período das chuvas, onde posso ter um maior número de plantas sendo cultivadas e também de forma natural. A natureza está me permitindo este beneficio bastando para isso fazer uma ação planejada. Com esta postura consigo fazer várias ações ao mesmo tempo:

1.      Aumento a captura de carbono;
2.      Posso ter o solo mais protegido por certo período;
3.      Aumento a capacidade de transferência de fertilidade na minha propriedade, entre outras.

·       Aumentando o consumo de alimentos crus – A partir do momento que aumento o consumo de alimentos crus, diminuo o gasto de energia para cozinhar. Vai aumentar a sobra para acontecer o armazenamento de energia que pode ser direcionada para outras atividades produtivas ou de consumo. O texto Consumo verde pode esclarecer e trazer mais subsídios para a prática desta atividade.

·         Utilizando ao máximo o principio de design de localização relativa dos elementos – Quanto mais distante um elemento do outro maior a possibilidade de haver aumento no gasto de energias. Logo a localização do elemento precisa ser vista com bastante atenção. Busque sempre aumentar as conexões entre os elementos além de aumentar as aproximações.

·     Transformando uma fonte de energia em outra(s) - Com uma fonte de Calor podemos: desidratar, ferver, aquecer, desinfetar, derreter, torrar, expurgar, etc. Esta com certeza pode ser outra estratégia para aumentar o reuso das energias.

·    Gerando tecnologias vivas - Esta é outra forma de melhorar a capacidade de reuso de energias. Várias tecnologias podem ser adaptadas e até criadas para atender a este reuso destas fontes energéticas. Como exemplo, podemos utilizar os animais como tratores biológicos dentro da propriedade, onde determinadas funções podem ser atendidas pela ação destes animais. Porcos podem arar, gansos podem capinar, galinha pode controlar alguns insetos, minhocas podem revirar o solo. Como vemos precisamos ver os animais com outros olhos, os olhos de parceiros que facilitam a vida do Permacultor.

·     Mínimo de mudança para o máximo de efeito – Este é um desafio permanente, como operacionalizar esta proposta? Quando bem pensada a nossa intervenção, podemos encontrar formas de  alcançar este objetivo. Como exemplo, para melhorar a compreensão: um ventilador numa determinada posição atende a necessidade de um elemento, apenas com a troca de lugar ou de direção ele pode atender a muito mais elementos utilizando-se a mesma energia. Dentro das propriedades durante minhas visitas percebo uma infinidade de elementos que com o mínimo poderia alcançar o máximo.


·       Aproveitar as rochas existentes no local transformando-as em farinha para aumentar o grau de disponibilidade de minerais para as plantas cultivadas. Ter rochas na propriedade é um presente da natureza e precisa ser visto como um privilégio “É ter uma fabrica de minerais para o solo a nossa disposição”, desde que possamos criar formas de desintegrar em pó estas rochas. Elas são fontes naturais e limpas de minerais para os solos. E muitas destas rochas já se conhecem suas riquezas minerais, pesquisem, perguntem. Com isto podemos também reutilizar todo este potencial minimizando a entrada de fora de minerais sintéticos.
Como podemos ver existe uma série de ações que podem fazer a diferença produtiva nas propriedades, é uma pena que a mídia não divulgue estratégias como as colocadas acima. Todas estas frisadas são tecnologias de processo que se pode fazer sem gerar gastos econômicos através de compras, unicamente necessitando decisões, planejamento e implantação.

Sabemos que toda interferência humana na natureza gera perturbação. Já que a interferência humana é necessária, como fazer para perturbar menos? Como fazer uma perturbação planejada? E não esqueça que o elemento colocado pelo homem, exemplo pés de milho, quem decide se o elemento fica ou não no sistema com toda certeza não é você é a natureza. Não tente comprar uma briga com a natureza, nesta briga sempre quem sai perdendo é o homem.

Não quero ser repetitivo em meus textos, mas se faz necessário que estas compreensões possam ser incorporadas não só no consciente, mas também no subconsciente. Uma mentira repetida permanentemente passa a ser conhecida como verdades logo precisarão repetir várias vezes a verdade para que ela seja aceita com verdade. Estamos cansados de ouvir tantas propagandas que tenta nos vender diariamente, elas são repetidas em alguns casos na TV a cada 5 a 10 minutos e nós aceitamos assistir e até divulgamos e compramos.

Estou tentando utilizar a mesma estratégia sendo até algumas vezes repetitivo em alguns trechos dos meus textos, mas é em prol de uma justa causa. Precisamos formar quadros de pessoas que façam diferentes e que sejam diferentes falando e defendendo formas de respeito ao meio ambiente, as formas de produção e estimulem um consumo muito mais consciente e saudável. Faça também parte desta luta não só lendo e divulgando. Pratique.

12 de julho de 2011

Um comentário:

  1. Já me tornei suspeito para elogiar, mas repito... Parabéns. A cada leitura aprendo muito.

    ResponderExcluir

Obrigado por comentar! Convide seus amigos para participarem também.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Thanks for commenting! Invite your friends to join too.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...